segunda-feira, 2 de março de 2009

sábado, 28 de fevereiro de 2009

...a cidade e as artes...

Por um longo tempo, para mim, Cinco foi uma cidade impossível de se alcançar. Não só pela sua distância física, mas também por sua distância cultural.
Não se sabe com precisão o tamanho de Cinco. Os mais entendidos falam que ela é da dimensão de um grande palácio. Dizem também que este palácio é cuidadosamente formado por vitrais impecáveis, paredes com fontes de águas cristalinas, um poço dos desejos ao centro, subsolos labirínticos e estanques, uma cúpula de cristal onde se pode observar outros reinos, piso com poesias que surgem e desaparecem ao acaso e lâmpadas que brilham ao som de cânticos eruditos.
Esta é, sem dúvida, a cidade dos poetas, artistas, cineastas e músicos. Constatei isso logo que adentrei na cidade. Prontamente me chamou a atenção o rapaz que buscava inspiração poética dialogando com um cão de guarda petrificado. Observei também a elegância das moças mascaradas que faziam do dia-a-dia um eterno palco. Como não falar das celebrações festivas onde os violões, pandeiros e clarins ditavam o ritmo dos olhares e dos toques entre os ímpetos juvenis? Ou da substituição da luz excessiva de lâmpadas pela parca luminosidade das velas, pois só assim poder-se-ia perceber a delicadeza dos traços faciais uns dos outros.
Conta a história que todos os habitantes de Cinco, ao nascerem, têm seus nomes escritos no grande livro dos futuros grandes pensadores. Este ato, simbolizando a entrada no mundo da sensibilidade, torna seus moradores aptos a freqüentar todos os teatros, museus, galerias, palcos e demais espaços latentes da produção cultural.
Outra lenda fala que, com o aprendizado e o crescimento cultural e após a morte, os seus habitantes adquirem a forma bidimensional e planificada de si mesmo fazendo parte, automaticamente, da grande exposição de pessoas invisíveis, imortalizando assim cada verso, traço ou nota musical que já passara por ali.
Conhecer esta cidade dos encontros foi algo maravilhoso, único nas minhas viagens por terras distantes. Creio que fui contaminado pelo ar que os poetas respiram e pela água que os cineastas bebem. Tornei-me morador desta terra também, mesmo em pensamento, pois após ter passado por Cinco até a imaginação imagina coisas novas.





MAPA DAS ARTES




BAILE DE MASCARAS


Olha minha máscara
Como ela é bonita
Quer olhá-la melhor
Sob a luz?

Então deixe-me chegar perto
Vamos conversar
E te contarei algo sobre ela

Ela é colorida.
Tem rasgos puxados, nariz libanês
É de um homem cordial
De energia inesgotável
Ela é alegre, festiva e
Carnavalesca
Joga futebol, e dança samba

Mas essa sai com facilidade
Para revelar outra máscara
Mais abaixo

Esta é cabocla
É teatral, ainda
De gestos grandiloqüentes
Os rasgos da face são mais duros
As cores se conhecem mais
Todas parentes do vermelho
Tem um forte cheiro de couro
De couro curtido
E um humor rápido e cortante
Que não respeita a nada e está
Sempre disposto a rir de si mesmo

Essa ainda sai com facilidade
E, espanto!, há outra a seguir

Ela é negra
Evoca o Benin, a Guiné, a Angola
As misteriosas praias africanas
Em costas americanas
Com ela eu falo cantado
E me torno um lascivo
Preguiçoso, cheio de malícia
Rebolado e misticismo
De mandingas e miçangas

Mas... quem diria!
Há uma outra máscara embaixo
Muito próxima, muito parecida
Igualmente negra
Ela lembra o refluxo das águas
De uma mansa baía
Ela fala línguas orientais
Para deuses orientais
Que nasceram aqui

Vive de comidas oleosas
E samba mais arrastado
E fala mais encolhido
Como um recôncavo a fechar-se
Em um abraço apertado

Qual é a sua máscara?
Deixe-me vê-la sob a luz
Vejo que carrega uma
Por debaixo da outra
E que não se encostam direito
Como a minha

Quero lhe conhecer
Mas, engraçado
Não posso falar contigo
Sobre outra coisa além
Do que vejo

Tampouco posso lhe
Contar
Sobre quem eu sou
Porque não me vês
E podes me tomar
Como mentiroso

Falaremos então
Sobre o que vemos
E não é de fato.
Conversa eternamente
Suspensa na aparência

Mas, quem se veste por
Debaixo de tantas máscaras?
Pode vir um rosto novo
Não antevisto pelas máscaras
E ser uma desagradável surpresa

Diante daquele adereço
Original e efusivo
Pode se esconder alguém
Inexpressivo

Ou pior
Verdadeiro pecado
Ser uma pessoa igual a mim
A meus amigos
A meus vizinhos

E penso que muitos me escapam
Porque escondido em
Ornatos banais e desinteressantes

Minha angústia derradeira
É a dúvida
De não poder me ver no espelho
E saber quem sou
Apenas intuir
De ver onde as máscaras apertam
E onde elas folgam

Meu medo definitivo
É vir a saber
A resposta da dúvida
Que vejo nos outros, em mim

Vir a saber
Que sou um farsante
E envergo máscaras
Que não dizem nada
Do que eu sou

Ou pior
Que por tanto tempo
Tenha eu ficado neste baile
Que as máscaras
Tenham se gravado
Definitivamente




ENTREVISTA COM PAULA MIRANDA
[Paula A. Miranda é estudante da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - UNESP Bauru]

POTENCIALIDADES E ESSÊNCIAS

Palácio das Indústrias, no Parque Dom Pedro II. Local cuja riqueza do edifício evocava toda a superposição de usos, planos, ocupações e interesses, muitas vezes conflitantes, que fizeram parte do desenvolvimento histórico e político da cidade. Foi neste local que se configurou o ENEA São Paulo, onde as discussões sobre a arquitetura, patrimônio, vazios urbanos, realidade social, estavam todas ali, diante dos nossos olhos. Eram muitas informações e coisas mil acontecendo ao mesmo tempo, assim como é a cidade de São Paulo, complexa e dinâmica.
Conviver com cerca de três mil pessoas vindas de diferentes lugares e realidades do país em um palácio - patrimônio arquitetônico da cidade - por uma semana, em pleno centro da cidade de São Paulo - cidade em que nasci e cresci, cidade que amo - com vários novos amigos e colegas de faculdade da qual eu fazia parte a apenas sete meses, em meu primeiro encontro de estudantes de arquitetura... este turbilhão de informações, experiências e sensações imprimiam em mim a cada momento daquela semana uma vivência única, da qual não fazia idéia que poderia um dia viver. Como era possível viver em meio a tantas pessoas com gostos e culturas tão diferentes, participando das mais densas e variadas atividades artísticas, culturais e políticas, de maneira tão harmônica? Estávamos vivendo uma efervescência cultural em simbiose, vivendo coletivamente! E isso era real. Parecia ser um sonho, mas era real.
Desta mistura de sensações e experiências que vivi no ENEA São Paulo, restou a satisfação de que podemos viver em uma cidade, um mundo, uma realidade melhor, uma realidade que sonhamos. Basta irmos ao Encontro desta realidade, deste sonho! Assim despertou em mim a vontade de saber como é fazer um Encontro, planejar um Encontro, fazer com que as pessoas se encontrem e se conheçam... me apaixonei por aquelas pessoas, por conhecer diferentes pessoas, e assim fui buscando conhecer melhor esse mundo dos sonhos, essa fábrica de sonhos que é a Federação, a FeNEA e os Encontros que ela promove. Hoje entendo que participar da FeNEA e dos Encontros de arquitetura não é só presenciar momentos mágicos e inesquecíveis, mas aprender a valorizar o conhecimento e as pessoas. Ah, sim, as pessoas... estas é que fazem estes momentos valerem a pena, me fazem ver que a coisa mais importante são as pessoas, e posso dizer que o convívio com estas que um dia fizeram parte da FeNEA e ainda fazem, seja nos Encontros, Conselhos ou Seminários, é o que torna toda esta experiência uma catalisadora de sonhos, um verdadeiro ensaio para a vida!!
E viva a FeNEA que ‘fez’ agente se encontrar!



CINCO, A CIDADE DAS ARTES
O XXIX ENEA aconteceu na cidade de São Paulo, no ano de 2005.
Foi o primeiro encontro nacional onde trabalhei como apoio (participante, geralmente de outra cidade, que auxilia a comissão organizadora nas mais diversas tarefas). Com isso pude conhecer uma nova ótica dos encontros. Fiquei mais de duas semanas na capital paulista, grande parte deste tempo dentro da “cidade ENEA”.
O encontro aconteceu dentro do Palácio das Indústrias, um lugar fascinante não só pela arquitetura, mas também pelas histórias que envolvem seu interior. Tive a imagem que este encontro não aconteceu em São Paulo, mas sim dentro de um palácio. Dentro daqueles muros, desde o subsolo até as cúpulas pairava uma atmosfera criativa que certamente tocou muitos de seus participantes.