Olha minha máscara
Como ela é bonita
Quer olhá-la melhor
Sob a luz?
Então deixe-me chegar perto
Vamos conversar
E te contarei algo sobre ela
Ela é colorida.
Tem rasgos puxados, nariz libanês
É de um homem cordial
De energia inesgotável
Ela é alegre, festiva e
Carnavalesca
Joga futebol, e dança samba
Mas essa sai com facilidade
Para revelar outra máscara
Mais abaixo
Esta é cabocla
É teatral, ainda
De gestos grandiloqüentes
Os rasgos da face são mais duros
As cores se conhecem mais
Todas parentes do vermelho
Tem um forte cheiro de couro
De couro curtido
E um humor rápido e cortante
Que não respeita a nada e está
Sempre disposto a rir de si mesmo
Essa ainda sai com facilidade
E, espanto!, há outra a seguir
Ela é negra
Evoca o Benin, a Guiné, a Angola
As misteriosas praias africanas
Em costas americanas
Com ela eu falo cantado
E me torno um lascivo
Preguiçoso, cheio de malícia
Rebolado e misticismo
De mandingas e miçangas
Mas... quem diria!
Há uma outra máscara embaixo
Muito próxima, muito parecida
Igualmente negra
Ela lembra o refluxo das águas
De uma mansa baía
Ela fala línguas orientais
Para deuses orientais
Que nasceram aqui
Vive de comidas oleosas
E samba mais arrastado
E fala mais encolhido
Como um recôncavo a fechar-se
Em um abraço apertado
Qual é a sua máscara?
Deixe-me vê-la sob a luz
Vejo que carrega uma
Por debaixo da outra
E que não se encostam direito
Como a minha
Quero lhe conhecer
Mas, engraçado
Não posso falar contigo
Sobre outra coisa além
Do que vejo
Tampouco posso lhe
Contar
Sobre quem eu sou
Porque não me vês
E podes me tomar
Como mentiroso
Falaremos então
Sobre o que vemos
E não é de fato.
Conversa eternamente
Suspensa na aparência
Mas, quem se veste por
Debaixo de tantas máscaras?
Pode vir um rosto novo
Não antevisto pelas máscaras
E ser uma desagradável surpresa
Diante daquele adereço
Original e efusivo
Pode se esconder alguém
Inexpressivo
Ou pior
Verdadeiro pecado
Ser uma pessoa igual a mim
A meus amigos
A meus vizinhos
E penso que muitos me escapam
Porque escondido em
Ornatos banais e desinteressantes
Minha angústia derradeira
É a dúvida
De não poder me ver no espelho
E saber quem sou
Apenas intuir
De ver onde as máscaras apertam
E onde elas folgam
Meu medo definitivo
É vir a saber
A resposta da dúvida
Que vejo nos outros, em mim
Vir a saber
Que sou um farsante
E envergo máscaras
Que não dizem nada
Do que eu sou
Ou pior
Que por tanto tempo
Tenha eu ficado neste baile
Que as máscaras
Tenham se gravado
Definitivamente
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