sábado, 28 de fevereiro de 2009

BAILE DE MASCARAS


Olha minha máscara
Como ela é bonita
Quer olhá-la melhor
Sob a luz?

Então deixe-me chegar perto
Vamos conversar
E te contarei algo sobre ela

Ela é colorida.
Tem rasgos puxados, nariz libanês
É de um homem cordial
De energia inesgotável
Ela é alegre, festiva e
Carnavalesca
Joga futebol, e dança samba

Mas essa sai com facilidade
Para revelar outra máscara
Mais abaixo

Esta é cabocla
É teatral, ainda
De gestos grandiloqüentes
Os rasgos da face são mais duros
As cores se conhecem mais
Todas parentes do vermelho
Tem um forte cheiro de couro
De couro curtido
E um humor rápido e cortante
Que não respeita a nada e está
Sempre disposto a rir de si mesmo

Essa ainda sai com facilidade
E, espanto!, há outra a seguir

Ela é negra
Evoca o Benin, a Guiné, a Angola
As misteriosas praias africanas
Em costas americanas
Com ela eu falo cantado
E me torno um lascivo
Preguiçoso, cheio de malícia
Rebolado e misticismo
De mandingas e miçangas

Mas... quem diria!
Há uma outra máscara embaixo
Muito próxima, muito parecida
Igualmente negra
Ela lembra o refluxo das águas
De uma mansa baía
Ela fala línguas orientais
Para deuses orientais
Que nasceram aqui

Vive de comidas oleosas
E samba mais arrastado
E fala mais encolhido
Como um recôncavo a fechar-se
Em um abraço apertado

Qual é a sua máscara?
Deixe-me vê-la sob a luz
Vejo que carrega uma
Por debaixo da outra
E que não se encostam direito
Como a minha

Quero lhe conhecer
Mas, engraçado
Não posso falar contigo
Sobre outra coisa além
Do que vejo

Tampouco posso lhe
Contar
Sobre quem eu sou
Porque não me vês
E podes me tomar
Como mentiroso

Falaremos então
Sobre o que vemos
E não é de fato.
Conversa eternamente
Suspensa na aparência

Mas, quem se veste por
Debaixo de tantas máscaras?
Pode vir um rosto novo
Não antevisto pelas máscaras
E ser uma desagradável surpresa

Diante daquele adereço
Original e efusivo
Pode se esconder alguém
Inexpressivo

Ou pior
Verdadeiro pecado
Ser uma pessoa igual a mim
A meus amigos
A meus vizinhos

E penso que muitos me escapam
Porque escondido em
Ornatos banais e desinteressantes

Minha angústia derradeira
É a dúvida
De não poder me ver no espelho
E saber quem sou
Apenas intuir
De ver onde as máscaras apertam
E onde elas folgam

Meu medo definitivo
É vir a saber
A resposta da dúvida
Que vejo nos outros, em mim

Vir a saber
Que sou um farsante
E envergo máscaras
Que não dizem nada
Do que eu sou

Ou pior
Que por tanto tempo
Tenha eu ficado neste baile
Que as máscaras
Tenham se gravado
Definitivamente




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