sábado, 28 de fevereiro de 2009

...a cidade e as artes...

Por um longo tempo, para mim, Cinco foi uma cidade impossível de se alcançar. Não só pela sua distância física, mas também por sua distância cultural.
Não se sabe com precisão o tamanho de Cinco. Os mais entendidos falam que ela é da dimensão de um grande palácio. Dizem também que este palácio é cuidadosamente formado por vitrais impecáveis, paredes com fontes de águas cristalinas, um poço dos desejos ao centro, subsolos labirínticos e estanques, uma cúpula de cristal onde se pode observar outros reinos, piso com poesias que surgem e desaparecem ao acaso e lâmpadas que brilham ao som de cânticos eruditos.
Esta é, sem dúvida, a cidade dos poetas, artistas, cineastas e músicos. Constatei isso logo que adentrei na cidade. Prontamente me chamou a atenção o rapaz que buscava inspiração poética dialogando com um cão de guarda petrificado. Observei também a elegância das moças mascaradas que faziam do dia-a-dia um eterno palco. Como não falar das celebrações festivas onde os violões, pandeiros e clarins ditavam o ritmo dos olhares e dos toques entre os ímpetos juvenis? Ou da substituição da luz excessiva de lâmpadas pela parca luminosidade das velas, pois só assim poder-se-ia perceber a delicadeza dos traços faciais uns dos outros.
Conta a história que todos os habitantes de Cinco, ao nascerem, têm seus nomes escritos no grande livro dos futuros grandes pensadores. Este ato, simbolizando a entrada no mundo da sensibilidade, torna seus moradores aptos a freqüentar todos os teatros, museus, galerias, palcos e demais espaços latentes da produção cultural.
Outra lenda fala que, com o aprendizado e o crescimento cultural e após a morte, os seus habitantes adquirem a forma bidimensional e planificada de si mesmo fazendo parte, automaticamente, da grande exposição de pessoas invisíveis, imortalizando assim cada verso, traço ou nota musical que já passara por ali.
Conhecer esta cidade dos encontros foi algo maravilhoso, único nas minhas viagens por terras distantes. Creio que fui contaminado pelo ar que os poetas respiram e pela água que os cineastas bebem. Tornei-me morador desta terra também, mesmo em pensamento, pois após ter passado por Cinco até a imaginação imagina coisas novas.





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